PALESTRA  N o. 52 ©


O DEUS VERDADEIRO E A IMAGEM DE DEUS

 Diz a Bíblia que não se deve criar uma imagem de Deus. Muita gente acredita que esta afirmação significa que não se deve desenhar um retrato ou fazer uma estátua de Deus. Mas não é este o significado deste mandamento. Se refletirem mais profundamente a respeito, irão perceber que trata-se de uma referência à imagem interna. O fato da existência de Deus ser tão questionada e a Presença Divina tão raramente experimentada dentro da alma humana é resultado desta distorção da imagem de Deus nutrida entre os seres humanos.

 O falso conceito de Deus

As crianças experimentam seu primeiro conflito com autoridade muito cedo em suas vidas. Elas também aprendem que Deus é a grande autoridade .  Conseqüentemente, não é de surpreender que as crianças projetem suas experiências subjetivas com a autoridade sobre a imagem que têm de Deus. Assim, uma imagem é formada; conforme seja a relação da criança, e mais tarde o adulto, com autoridade, sua atitude para com Deus, com certeza, terá o mesmo colorido e influencia.

A criança experimenta todos os tipos de autoridade  Quando é proibida de fazer o que mais gosta, experimenta autoridade como hostil. Quando os pais são indulgentes para com a criança, autoridade será sentida como benigna. Quando predomina um tipo de autoridade na infância, a reação usada pela criança irá se tornar a atitude inconsciente para com Deus. Contudo, na maioria das vezes, a criança experimenta uma mistura de ambos.  Assim, a combinação destes dois tipos de autoridade formará a sua imagem de Deus. 

Quando a criança experimenta medo e frustração, na mesma medida sentirá medo e frustração com relação a Deus. Deus é, então, tomado como uma força punitiva, severa e freqüentemente até injusta, com o qual o indivíduo tem que medir forças. 

Reconheço, amigos, que conscientemente vocês não pensam desta maneira.  Mas nesse trabalho de auto-conhecimento, vocês vão se dando conta de reações emocionais que não correspondem aos seus conceitos conscientes em muitos assuntos. Quanto menos o conceito inconsciente coincide com o consciente, maior é o choque quando o indivíduo percebe a discrepância. 

A maioria das coisas que a criança mais gosta são proibidas.  Muitas coisas que dão tanto prazer são proibidas, geralmente pelo bem da própria criança;  isto ela não consegue compreender.  Acontece também dos pais fazerem proibições a partir da sua própria ignorância e medo. Assim fica impresso na mente da criança que as coisas mais prazerosas do mundo estão sujeitas à punição de Deus, a autoridade máxima e a mais severa. 

Além disso, faz parte da experiência humana se deparar com injustiças no curso da vida, tanto na infância quanto na maturidade.  Especialmente quando estas injustiças são perpetradas pelas pessoas que representam autoridade e são, portanto, inconscientemente associadas a Deus, a crença inconsciente na injustiça severa de Deus é fortalecida.  Tais experiências também intensificam o medo de Deus. Tudo isso forma uma  imagem que, se analisada adequadamente, transforma Deus num monstro.  Este Deus que existe na mente inconsciente, aproxima-se mais de um demônio.

Cada um de vocês, à sua maneira, deverá descobrir no seu trabalho, o quanto isto se adequa à sua personalidade.  Estaria sua alma impregnada de tais conceitos errôneos? Mesmo que a percepção de tal imagem vá se tornando consciente para o indivíduo em desenvolvimento, nem sempre ele se dá conta de que é o conceito de Deus que é falso. Daí a pessoa vira totalmente as costas para Deus, evitando qualquer coisa que lembre aquele monstro que paira na sua mente.  Este é, por sinal, o verdadeiro motivo para o ateísmo. Virar as costas é um equivoco tão grande quanto o extremo oposto que consiste em temer um Deus que é severo, injusto, impiedoso e cruel.

A pessoa que, inconscientemente, mantém a imagem de Deus distorcida, com certeza teme a Deus e faz barganha, usando atitude de bonzinho. Estes são exemplos de extremos opostos, ambos equivocados. 

Agora, examinemos o caso em que a autoridade benigna é mais enfatizada do que aquela autoridade que provoca  medo e frustração.  Imaginem uma criança que os pais enchem de mimo e tratam com excesso de indulgência, realizando todos os seus caprichos.  Estes pais não instigam um senso de responsabilidade na criança. Isto promove na personalidade uma crença inconsciente de que ela pode tudo aos olhos de Deus. A criança pensa que pode enganar a vida e evitar auto-responsabilidade. Pra começar, ela conhecerá muito pouco o medo. Mas como a vida não pode ser enganada, esta atitude errônea produzirá conflitos e como conseqüência o medo virá mais tarde numa reação em cadeia de pensamentos, sentimentos e ações. Uma confusão interna irá emergir, pois a vida, tal como é na realidade, não corresponde ao conceito e à imagem de um Deus indulgente. 

Muitas combinações destas duas principais categorias podem existir na mesma alma e o desenvolvimento alcançado a este respeito, em encarnações passadas, também influencia a psique. Por isso é tão importante descobrir a sua imagem de Deus.  Esta é uma imagem básica e determina todas as outras imagens, atitudes e padrões ao longo de suas vidas. Não sejam enganados pelas suas convicções conscientes.  Ao invés disto, tentem examinar e analisar suas reações emocionais à autoridade, a seus pais, aos seus medos e às suas expectativas.
A partir daí vocês irão gradualmente descobrir o que sentem, ao invés do que pensam sobre Deus.