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PALESTRA N o. 94 © - 8 de dezembro de 1961
PECADO E NEUROSE –
UNIFICANDO A DIVISÃO INTERNA
Quanto mais aprofundam nesse caminho e compreendem a natureza deste trabalho, mais vocês entendem que a meta é o contato com o Eu Superior, o Eu verdadeiro coberto por todas aquelas camadas e camadas que, à primeira vista, parecem ser sua personalidade. Quanto mais prosseguem, mais se dão conta de que estas camadas não são o seu Eu real, mas traços artificiais cultivados por tanto tempo que tornaram-se uma segunda natureza que dão a impressão de que é você. Quanto ao Eu superior, sabemos que ele é o guardião da centelha divina. O conceito inconsciente que vocês tem deste Eu superior é tão elevado e divino que chega a ser completamente estranho ao Eu que vocês conhecem. Esta discrepância assusta e desencoraja. E este medo é, na verdade, um dos maiores obstáculos para o encontro com o Eu real. O Eu Superior está muito mais perto de vocês do que imaginam. Existem áreas na vida onde vocês agem a partir do Eu Superior e nem percebem, já que isto é um processo natural. Vocês já não podem distinguir entre uma ação natural e aquela vinda de camadas superficiais. Imaginam que o Eu superior, por ser divino, se expressa na forma de uma perfeição rígida, padronizada. Esta crença atrapalha mais do que as imperfeições. A concepção errônea sobre a perfeição divina gera por um lado, rigidez e compulsão e por outro, rebeldia. Vocês ignoram a verdade de que a imperfeição pode levar à perfeição, e pode até ser considerada “perfeita” no momento em que acontece. Porque a perfeição, no verdadeiro sentido divino, é relativa e depende mais da sua atitude para com você e suas ações do que de ações corretas. Em outras palavras, não é o que você faz que importa, mas como você faz. Um ato pode ser considerado correto pelo mundo inteiro e estar de acordo com todas as leis espirituais e ainda assim ser desonesto. Se este ato deixa você dividido, se foi impulsionado pelo medo, por compulsão ou por um desejo de aprovação ou para receber amor, neste caso não foi seu Eu verdadeiro que agiu, apesar de quão perfeita tenha sido a ação externa. Por outro lado, seu ato pode ser condenado pelo mundo. Pode ser contraditório a qualquer noção de perfeição. Apesar disso, no seu estado atual, este ato pode ser não só inevitável como também necessário. Você mostra o que é realmente, de acordo com sua natureza e seu desenvolvimento interno. Se está à vontade com isso, assumindo total responsabilidade, pronto para enfrentar as conseqüências, este ato imperfeito é mais perfeito e mais de acordo com sua verdade do que qualquer perfeição externa. Entender este conceito requer um tanto de visão e de progresso. Com certeza não deve ser abordado com leviandade e irresponsabilidade. Obstinação infantil, querer conseguir as coisas em troco de nada, não deve ser confundido com este tipo de “imperfeição perfeita”. |