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É a base da criação. Sempre que existe uma emoção por trás dela há um desejo. Desejo significa atividade.
No reino da dualidade, como tudo o mais, o desejo cumpre um duplo papel. De um lado, pode ser “indesejável”, pois o desejo intenso, desejo subjetivo – desejo que nasce do ego e suas distorções – afasta o homem do núcleo do seu ser. Esse desejo contém orgulho, vontade própria, medo, falta de confiança no universo. Ele cria um sistema de energia tensa e contraída e impede o fluxo da força vital. É por isso que muitos ensinamentos espirituais defendem um estado de ausência de desejo como pré-requisito necessário para a ligação com o eu divino. É um estado a ser acalentado para a realização do eu espiritual.
De outro lado, é igualmente verdadeiro que, se não houver desejo, não poderá haver expansão, incursões em novos terrenos, em novas percepções e estados de consciência, sequer desenvolvimento ou purificação.
Somente o desejo motiva alguém a reunir coragem, perseverança e firmeza necessárias para tatear a jornada da alma que leva para fora da escuridão e do sofrimento. Esse tipo de desejo contém fé na possibilidade de atingir um estado melhor. Assim, não se pode afirmar sempre que a presença de desejos é um entrave à espiritualidade. A filosofia oriental fala da “ausência de desejos” como um estado necessário. Isso só é parcialmente verdadeiro. Não é verdadeiro no sentido de que, se o desejo está ausente, é impossível criar.
A revolta contra as coisas que não podem ser mudadas – ou que só podem ser mudadas mediante uma atitude interior diferente – é um desejo que cria uma pressão na direção errada e, portanto, cultiva a desordem na alma. A retirada da pressão desses desejos errados direciona nossa força para os desejos adequados e bons, onde a força ativa é muitíssimo necessária, mas onde somos geralmente fracos porque estamos desperdiçando os recursos que temos.
A ausência de desejo, no entanto, deve se estabelecer no que diz respeito ao ego. Esse distanciamento só pode vir a existir indiretamente, isto é, como decorrência do crescimento espiritual e quando somos capazes de aceitar a dor de maneira sadia.
Uma pessoa com muito medo de encarar o mundo, seus sentimentos e as inevitáveis decepções, se retrai e pode usar a expressão do não desejo como camuflagem para justificar a sua imagem. É um fenômeno comum. Somente quem não tem esse medo é capaz de entender o não desejo e a renúncia em sua acepção verdadeira, e não distorcida.
Vários aspectos do desejo são tratados nas palestras: desejo compulsivo (059q); desejo consciente e inconsciente (031 e 045); desejo contraído (168); desejos criativos e destrutivos (206); ausência de desejo (013q, 039q, 182); desejo de proximidade (138); desejo de felicidade e infelicidade (058); desejo do Eu Inferior ou do Eu Superior (029q); desejo saudável e doentio (056); desejo infantil e utópico (060); vergonha de desejar (031); desejo de ser amado (071); desejo de ser amado e sua supressão (069); desejo de ferir (156q); desejo de saber a vontade de Deus (029q).
Palestras: 013q, 029, 031, 039q, 045, 056, 058, 059q, 060, 069, 071, 138, 156q, 168, 182, 206, 217