É uma pseudossolução que a pessoa usa como forma de “proteção”.

Quando a autoimagem idealizada está em ação, ela é sempre inconsciente até ser trazida à consciência. Ela nada tem a ver com possíveis fingimentos ou enganos propositais e conscientes. Quando essa imagem é suficientemente observada e entendida, ela fatalmente se dissolve, não apenas por questões morais, mas também porque se percebe que ela jamais poderá cumprir sua finalidade.

A autoimagem idealizada engana o eu, na medida exata em que este pretende enganar a vida – daí a frustração, o vazio, a infelicidade. Um de seus principais elementos é o perfeccionismo. Ser perfeito, de acordo com os ditames do eu idealizado, é um meio de conseguir a autoconfiança ausente; de eliminar culpas vagas, persistentes; de obter magicamente amor, sucesso e respeito. A ironia da questão é que viver através da autoimagem idealizada é, de fato, uma forma de acabar com qualquer resquício de autoconfiança. A culpa aumenta o medo de que a fraude seja descoberta, o que amplia as defesas e atrai a rejeição.

O estabelecimento da autoimagem idealizada tem uma finalidade adicional em relação à imagem de Deus. Na medida em que obedecer às regras odiadas, contra a nossa vontade, seria muito humilhante, a psique finge aceitar essas regras em prol da perfeição por si só.

Em outras palavras, a rigidez e as exigências da autoimagem idealizada não só servem ao propósito de lidar com as dificuldades da vida, com um mundo hostil e perigoso, mas também para ocultar que podemos encontrar a segurança e o prazer quebrando justamente as regras que odiamos, isto é, internamente nos rebelando contra elas. Isto é válido, mesmo se a autoimagem idealizada é predominantemente rebelde e antissocial, porque a minoria rebelde representa também regras, mas de uma ordem diferente.

Seja a pseudossolução agressiva, ou submissa, estamos sempre tentando nos identificar com o que mais tememos. A imagem de Deus sutilmente se funde com a autoimagem idealizada, que tem o propósito adicional de aliviar o peso do jugo do sentimento que temos que obedecer, queiramos ou não.