É o estado decorrente do processo de colocar em causa a pseudossolução da autoimagem idealizada em nossa vida diante de problemas que ela nos apresenta. Como nossos objetivos parecem difíceis de alcançar, ou se mostram equivocados, gera-se uma pressão interna crescente em que a pessoa fica imprensada entre a necessidade de encontrar uma solução e o fato de não saber como proceder nem onde ou a quem recorrer.

Tristeza e depressão são diferentes. Quando há tristeza, aceitamos sem autopiedade que uma faceta dolorosa da vida está fora do nosso poder de mudá-la. Sentimos uma dor crescente, mas saudável devido a alguma circunstância exterior, sabendo que ela vai passar. Não existe imposição de fora, ocultação, deslocamento de emoções.

Quando há depressão, as circunstâncias exteriores podem ser as mesmas, porém nossos sentimentos de dor, numa medida considerável, se devem a razões que vão além da ocorrência externa. Embora não possamos mudar a circunstância externa, podemos mudar alguma coisa em nós mesmos, bastando para isso enxergar os motivos reais do nosso sofrimento – determinadas emoções que não queremos encarar, sejam mágoas, ressentimentos, inveja, erros praticados por nós mesmos ou por outra pessoa.

A depressão está sempre associada à frustração e à desesperança. A autopiedade é sempre um subproduto da depressão.

Quando estamos deprimidos (seja ou não em conjunto com a tristeza) por qualquer motivo, existe em nosso íntimo uma série de emoções confusas, ambíguas das quais não temos consciência. Elas provocam uma vaga perturbação, que é atribuída a uma dor legítima.

De fato, deslocamos emoções e usamos um fato real e válido para encobrir algo que não queremos encarar e aceitar. A dissolução da causa da depressão não serve apenas à finalidade de nos libertar de sentimentos muito desagradáveis, mas acima de tudo ela libera faculdades que vão funcionar a nosso favor e não contra.

Como a depressão é efeito de uma causa, essa mesma causa impede que de fato possamos viver e nos realizar. É por isso que nos sentimos deprimidos, e porque estamos deprimidos, não vivemos plenamente.

Vários aspectos da depressão são tratados nas palestras: características, processo de deslocamento, relação da depressão com a frustração, a infelicidade e a autopiedade (106).